
Entendia, afinal, que seu grande problema era sentir demais. Sentia dor, amor, rancor, e todos essas terminações que congestionam o peito de tanta contradição. Não bastando sentir, sentia só. Sonhava e criava expectativas de si mesma, só. Não era preciso palavra alguma dele para que ela imaginasse os dois de mãos dadas nas manhãs ensolaradas de sua viagem à praia. Assim como não eram necessárias palavras para que ela se sentisse a última das criaturas enquanto o via abraçando alguém que não seja ela. E doía. Mesmo a razão dando batidinhas carinhosas em sua cabeça dizendo “ninguém te prometeu nada, menina boba, deixe disso”, insistia em se doer. Durante a noite, lia romances, se imaginando na grande e feliz história desenrolada pelas palavras de seus autores favoritos, acabava por se iludir, sentindo a promessa de ter sua própria história, e ficava feliz de novo. Qualquer coisa a sua volta trazia alguma sensação, seja a música melancólica na rádio que a fazia mergulhar em seus medos, seja a luz do Sol invadindo o quintal e estufando seu peito de esperança. Tudo sempre pareceu uma desculpa convincente para sentir. Sentia como se cada pedacinho do dia oferecesse uma sensação nova em cada esquina, e aceitava de bom grado. Porque, refletia todos os dias durante o café da manhã, era muito mais fácil viver acompanhada de sentimentos solitários dentro do peito, do que pensar que a vida lhe dera apenas mais uma tarde vazia para preencher. Sentir demais, no final das contas, era seu maior problema. Assim como também era sua salvação.
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