domingo, 4 de setembro de 2011

Entendia, afinal, que seu grande problema era sentir demais. Sentia dor, amor, rancor, e todos essas terminações que congestionam o peito de tanta contradição. Não bastando sentir, sentia só. Sonhava e criava expectativas de si mesma, só. Não era preciso palavra alguma dele para que ela imaginasse os dois de mãos dadas nas manhãs ensolaradas de sua viagem à praia. Assim como não eram necessárias palavras para que ela se sentisse a última das criaturas enquanto o via abraçando alguém que não seja ela. E doía. Mesmo a razão dando batidinhas carinhosas em sua cabeça dizendo “ninguém te prometeu nada, menina boba, deixe disso”, insistia em se doer. Durante a noite, lia romances, se imaginando na grande e feliz história desenrolada pelas palavras de seus autores favoritos, acabava por se iludir, sentindo a promessa de ter sua própria história, e ficava feliz de novo. Qualquer coisa a sua volta trazia alguma sensação, seja a música melancólica na rádio que a fazia mergulhar em seus medos, seja a luz do Sol invadindo o quintal e estufando seu peito de esperança. Tudo sempre pareceu uma desculpa convincente para sentir. Sentia como se cada pedacinho do dia oferecesse uma sensação nova em cada esquina, e aceitava de bom grado. Porque, refletia todos os dias durante o café da manhã, era muito mais fácil viver acompanhada de sentimentos solitários dentro do peito, do que pensar que a vida lhe dera apenas mais uma tarde vazia para preencher. Sentir demais, no final das contas, era seu maior problema. Assim como também era sua salvação.(Gabriela Santarosa) 
Entendia, afinal, que seu grande problema era sentir demais. Sentia dor, amor, rancor, e todos essas terminações que congestionam o peito de tanta contradição. Não bastando sentir, sentia só. Sonhava e criava expectativas de si mesma, só. Não era preciso palavra alguma dele para que ela imaginasse os dois de mãos dadas nas manhãs ensolaradas de sua viagem à praia. Assim como não eram necessárias palavras para que ela se sentisse a última das criaturas enquanto o via abraçando alguém que não seja ela. E doía. Mesmo a razão dando batidinhas carinhosas em sua cabeça dizendo “ninguém te prometeu nada, menina boba, deixe disso”, insistia em se doer. Durante a noite, lia romances, se imaginando na grande e feliz história desenrolada pelas palavras de seus autores favoritos, acabava por se iludir, sentindo a promessa de ter sua própria história, e ficava feliz de novo. Qualquer coisa a sua volta trazia alguma sensação, seja a música melancólica na rádio que a fazia mergulhar em seus medos, seja a luz do Sol invadindo o quintal e estufando seu peito de esperança. Tudo sempre pareceu uma desculpa convincente para sentir. Sentia como se cada pedacinho do dia oferecesse uma sensação nova em cada esquina, e aceitava de bom grado. Porque, refletia todos os dias durante o café da manhã, era muito mais fácil viver acompanhada de sentimentos solitários dentro do peito, do que pensar que a vida lhe dera apenas mais uma tarde vazia para preencher. Sentir demais, no final das contas, era seu maior problema. Assim como também era sua salvação.

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