segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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Todas as noites, exatamente meia noite em ponto, sentava em minha rede gasta e começava a sonhar. Era muito bom dormir e encontrar-me com paixões, amigos, festas. Esquecer os problemas, e por oito horas sorrir de pleno contentamento. Mas ainda melhor, era sonhar acordada - lembrando daquilo que sonhei, detalhes vívidos e prazerosos, com o poder de voltar todas as noites para o mesmo sonho, mudando milhares de vezes diálogos e situações, mas sempre seguindo até o final feliz. Tudo o que precisava fazer era deitar naquela rede acompanhada das estrelas, fechar os olhos e viajar.

Hoje, decidi que nos encontraríamos numa grande festa. Lentamente me transportei até o sonho. Dezenas de gargalhadas e sorrisos brilhavam junto à Lua a alegria que irradiava das notas de um violão velho tocando músicas engraçadas, românticas, perdidas - dignas de serem ouvidas. No centro, uma grande fogueira, suas chamas quase tocavam o céu, brincando com as nuvens. Várias luzes coloridas preenchiam o local, voando como vagalumes em volta das pessoas. Andei devagar até a fogueira, sentando-me em sua frente. Olhando em volta, percebi quão perfeito era aquele cenário, digno de poesias e fotografias para eternizar aquela sublime noite de verão. Você chegou devagar, sentou do meu lado no exato momento em que aquela que seria nossa música começava a nascer nos acordes do violão. Você me sorriu, e eu te sorri de volta. Horas passaram enquanto imaginava aquela cena, desenhando cada contorno seu, pintando as sombras que as chamas fariam em seu rosto. Decidi que já era tempo de palavras serem ditas. Primeiro, pensei em você dizendo simples “olá”, logo depois, mudava de ideia, decidindo que dirias um “a noite está tão linda”. Mas recordei que por certo diria a última coisa que me passasse pela cabeça. Por fim, sussurrou apenas para nós escutarmos:
- Pensei que jamais chegaria.

Eu gostava de pensar que, mesmo sem saber, sabia quem eu era - gostava de imaginar que você me esperava, da mesma forma que te espero. Ouvir aquelas palavras - mesmo que em pensamento - fez com que um sorriso nascesse devagar em meus lábios sonhadores. Então, respondi:

- Perdoe-me por lhe fazer esperar, me perdi pelo caminho e não sabia como retornar. Cheguei a pensar que jamais descobriria a estrada certa. - sorri pesarosa, e senti sua mão tocar a minha.

- Bem, creio que então seja um alívio… - ficou mudo no meio da frase propositalmente, só para atiçar minha curiosidade. Fora do sonho, remexi na rede. Já havia deixado meu coração guiar as palavras. Agora, nada mais era além de uma espectadora.

- O que é um alívio? - indaguei com olhar desconfiado.

- Que nunca mais me separarei de ti.

Depois destas palavras, ele me deu um sorriso - aberto, triunfante -, aquecendo meu coração. Mas mesmo em sonho, o medo se faz presente.

- E se nos perdermos um do outro?

- O nosso amor encontrará o caminho de volta.

Aquelas palavras, ditas com tanta certeza e aquele sorriso que me tirava a razão, expulsaram qualquer “e se” que minha cabeça pudesse criar. A música era apenas uma voz distante. O fogo era um brilho pequeno, quase invisível. Só existíamos nós dois e as palavras. Ele se aproximou de mim, e o sonho acabou. Eu não sabia ainda como seria aquele toque, terminando o sonho antes de criá-lo. É verdade, só consigo imaginar suas mãos nas minhas, e é o máximo que me permito. Por puro medo de que não seja tudo aquilo que imaginava que fosse, e também para guardar um gostinho de ansiedade. Tem coisa que sonhar não basta - só serve para dar mais vontade e tristeza por não saber quando acontecerá -, então todas as noites, após nosso diálogo e troca de olhares, abro os olhos e fito o céu. Imagino que em algum lugar, ele esteja sonhando comigo. O invento sentado em uma cadeira olhando as estrelas, ou mesmo deitado em sua cama, virando de um lado para o outro, sonhando com as mesmas coisas que eu. E pensar que ele está tão ansioso quanto eu, me triplica a vontade de sonhar, para depois encontrá-lo e dizer todas as vezes que nos vimos antes de nos conhecermos. Desta vez, sonhando juntos, sem ponto final.

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